Como driblar a falta de comida sazonal?
Como driblar a falta de comida sazonal?

Os próximos meses, de março a junho, compõem o período mais crítico para a produção pecuária. É o chamado vazio outonal, quando o pasto de verão começa a envelhecer e as pastagens de inverno ainda estão sendo implantadas. A suplementação com silagem e feno pode dobrar o custo da pastagem para produção do leite, enquanto a troca de pasto por rações e concentrados pode aumentar os custos em seis vezes. Veja algumas estratégias para minimizar o vazio forrageiro que começa agora.

A sazonalidade produtiva das pastagens está associada tanto às condições climáticas, quanto ao ciclo de crescimento das espécies forrageiras. Em geral, a maioria das pastagens disponíveis na Região Sul é composta por espécies de crescimento na estação quente, quando florescem, frutificam e maturam, chegando ao final do verão com estrutura fibrosa, plantas com mais colmos do que folhas, que perdem drasticamente o valor nutritivo. Por exemplo, se no início do verão um hectare de Tífton (cerca de 15.000 kg de massa verde) seria referência para produzir 3.000 litros de leite (ou alimentar 10 vacas), no final da estação seriam necessários três hectares para garantir a oferta de pasto de qualidade capaz de assegurar o mesmo volume de produção.

O pesquisador da Embrapa Trigo Renato Fontaneli, que trabalha com Integração Lavoura-pecuária-floresta (ILPF), sugere algumas estratégias para reduzir o impacto do vazio forrageiro na remuneração do produtor:

a) diferimento de forrageiras perenes de verão: consiste em retirar os animais do pasto e acumular forragem para o período adverso. A sobra de bermuda (Tifton), capim colonião (Aruana, Áries, Massai, Tanzânia, Tamani) e mesmo braquiárias (Marundu, Xaraés, Piatã entre outras), capim elefane anão (BRS Kurumi) pode ser manejada (roçar, adubar, irrigar) para acumular forragem para o outono;

b) áreas liberadas cedo (janeiro/fevereiro) provenientes de colheita de grãos de feijão, milho silagem, pastagem de sorgos e milheto degradadas: sugere-se semear milheto, sorgos, capim-sudão e mesmo milho grão, em alta densidade (de 150 mil a 300 mil plantas por hectare - pode significar mais de 50 kg/ha de grãos recém colhidos) para forragear os animais no coxo ou mesmo em pastejo;

c) como medida de longo prazo, sugere-se perenizar áreas (forrageiras ocuparão a área os 12 meses todo o ano) usando gramíneas de inverno como o azevém e festuca, consorciadas com trevo-branco, trevo-vermelho e cornichão. A limitação dessa prática é que essa área não permitirá a semeadura de soja e milho, como acontece com as áreas de Tifton  e outras forrageiras perenes de verão;

d) antecipação de semeadura de espécies anuais de inverno: podem ser utilizadas várias espécies como aveias, centeio, triticale, cevada e trigo, que, semeadas logo após a colheita de verão, podem produzir forragem durante todo o outono e inverno. Um exemplo é o trigo BRS Pastoreio, variedade recém lançado pela Embrapa Trigo, que pode ser semeado em março-abril, servindo como pastagem para o outono e parte do inverno, além da possibilidade de manejo da cultivar para colheita de grãos ou para silagem. A silagem pode ser desde pré-secada, de planta inteiro ou até de grãos úmidos. A silagem a partir de espécies de inverno pode substituir parcialmente a silagem de milho, em geral apresentando teor de proteína superior ao milho e ao sorgo. 

O pesquisador destaca o investimento em pastagens de inverno como uma grande oportunidade para os sistemas integrados no Sul do Brasil: “Na integração lavoura-pecuária a produção de grãos como soja e milho ocupa grande parte das propriedades no verão, mas durante o inverno muitas áreas ficam ociosas, sem produzir renda e sem qualquer cobertura, passíveis de multiplicarem plantas daninhas e expostas à erosão, diminuindo o armazenamento de água com perdas consideráveis de solo e nutrientes. Aproveitar esse espaço para produzir forragens, conservadas através de feno ou silagem, certamente vai permitir maior tranquilidade ao produtor durante os vazios forrageiros”. 

Manejo da cultivar BRS Pastoreio

 

Fonte: Embrapa